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Microplásticos

  • Foto do escritor: Jean De Paola
    Jean De Paola
  • 27 de nov. de 2024
  • 9 min de leitura

 


Pescadores chegam com polvo no Porto de Pedras(AL)

 

Há algumas semanas apareceram notícias sobre a presença de microplásticos (MP) no Brasil. No estudo referido por uma delas foi demonstrado que todas as praias analisadas no Brasil apresentam algum tipo de resíduo plástico, não necessariamente MP. As 5 praias brasileiras com as maiores densidades plástico por m2 são: Mongaguá (SP), Conceição da Barra (ES), Florianópolis (SC), Arroio do Sal (RS) e Natal (RN). Na outra ponta, as praias sem MPs são: Farol de São Tomé (RJ), Ilha de Maracá (AM), Ilha do Atim (MA), Praia da Ponta das Gaivotas (BA), Praia das Pedrinhas (RJ), Praia de Atalaia (BA), Praia de Cações (BA), Praia do Amor (MA), Praia do Coqueiral (ES) e Praia do Martins (ES).

 

Os microplásticos são pedaços pequenos de plástico, com tamanho menor do que 5 mm (que pode variar de acordo com a definição utilizada no estudo) e que acabamos por ingerir ao comer peixes e frutos do mar.  

Define-se a origem dos MPs a partir, claro, dos Plásticos, que podem ser:

  • Fontes Tradicionais: principalmente de combustíveis fósseis, como petróleo e gás natural.

  • Fontes Emergentes: a mudança para bioplásticos levou à exploração de várias matérias-primas de base biológica, incluindo plantas, animais e insetos. Por exemplo, o látex extraído de árvores, a celulose das plantas e a goma-laca dos insetos.

Os principais causadores de microplásticos:

Fontes Primárias: Essas fontes são produtos plásticos que são intencionalmente projetados para serem pequenos, como pelets de plástico usadas em manufatura, esferas abrasivas presentes nos produtos de limpeza e nas fibras das roupas sintéticas, sendo que a lavagem de uma única calça jeans na máquina de lavar roupa gera em torno de 500 MPs.

O diagrama em formato de pizza abaixo mostra as principais fontes primárias e as suas porcentagens.



Retirado de Environmental Nanotechnology, Monitoring & Management 16 (2021) 100530, pp 03 Microplastics pollution: A comprehensive review on the sources, fates, effects, and potential remediation

 

Fontes Secundárias: Essas fontes resultam da degradação de itens plásticos maiores em pedaços menores. Isso pode ocorrer por meio de:

  • Processos físicos e químicos como desgaste, abrasão das ondas do mar e por degradação gerada por ondas eletromagnéticas UV provenientes do sol.

  • Atividade biológica como a biodegradação e biofragmentação por microrganismos como bactérias.

Os últimos itens para caracterizar MP são:

  • Definição e Classificação: Microplásticos (MPs) são pequenos pedaços de plástico degradado, geralmente com comprimento entre 0,001 e 5 mm. Eles são divididos por tamanho (nano, micro e macro) e pela origem (primária ou secundária).

  • Tipos Comuns: Os MPs geralmente consistem em seis tipos principais de plástico: o polietileno (PE), o polipropileno (PP), o poliestireno (PS), o cloreto de polivinila (PVC), o poliuretano (PUR) e o tereftalato de polietileno (PET). Esses plásticos são amplamente utilizados em embalagens, na construção civil e na indústria automotiva.

Como sempre escrevo sobre Análise de Ciclo de Vida, aqui não seria diferente, então vou me ater apenas à entrada deles no meio ambiente e aos impactos gerados.

  • Entrada no Meio Ambiente: Os MPs entram no meio ambiente por meio de várias vias, incluindo deposição atmosférica, fontes terrestres (embalagens, como as de garrafas e como a dos fertilizantes, grama artificial e a partir dos aterros sanitários), transporte aéreo, tecidos, atividades turísticas, embarcações marítimas e aquicultura.

  • Distribuição e Acúmulo: Os MPs são encontrados em vários ecossistemas, incluindo ambientes terrestres e aquáticos. Eles se acumulam no solo devido ao descarte inadequado de resíduos, afetando a qualidade do solo e interagindo com a fauna. Além disso, os MPs vão para os oceanos, acumulam-se em sedimentos de águas profundas e até mesmo em regiões polares. No Oceano Pacífico há uma ilha de plástico (chamada Great Pacific Garbage Patch, ou Grande Caminho de Lixo do Pacífico), pois os resíduos de plástico que as correntes oceânicas carreiam acabaram se acumulando num mesmo lugar, com a área sendo algo como duas vezes o tamanho da França. Então, essa ilha apresenta um potencial enorme de geração de MP por todos os meios explicados aqui.

A figura abaixo mostra uma imagem indicando o caminho que os MPs percorrem desde que viraram resíduos em nossas casas e/ou foram para o aterro sanitário, se transformando em MPs e sendo absorvidos pela vida marinha até virem parar na nossa mesa.

 


Retirada de International Journal of Environmental Science and Technology (2023) 20:4673–4694 https://doi.org/10.1007/s13762-022-04261-1 pp 4679, Microplastics in environment: global concern, challenges, and controlling measures


  • Acúmulo no solo: Os microplásticos se acumulam no solo, especialmente em solos agrícolas, devido ao uso de lodo de esgoto como fertilizante, irrigação com água contaminada, descarte inadequado de plástico e pela deposição atmosférica.

  • Alteração das propriedades do solo: A presença de microplásticos no solo pode alterar suas propriedades físicas e químicas, incluindo densidade aparente, capacidade de retenção de água e a atividade microbiana, afetando a saúde e a função do solo.

  • Impacto na biota do solo: MPs podem interagir com organismos do solo, como minhocas, alterando seu ambiente, influenciando seu condicionamento físico e função no ecossistema do solo.

  • Absorção pelas plantas: Existe o risco dos microplásticos serem absorvidos pelas plantas através de suas raízes, potencialmente impactando seu crescimento e entrando na cadeia alimentar, representando riscos para os consumidores como por exemplo nós.

  • Ingestão e Impacto em Organismos Vivos: Um aspecto crítico do ciclo de vida dos MPs é sua ingestão por organismos vivos. Em ecossistemas aquáticos, os MPs são ingeridos por várias espécies marinhas, incluindo peixes, frutos do mar e zooplanctons.

  • Efeitos Tóxicos: A ingestão de MPs tem sido associada a vários efeitos tóxicos em organismos aquáticos, incluindo toxicidade gastrointestinal, hepática, neurotóxica e reprodutiva. Estudos demonstraram que os MPs podem levar a danos no trato gastrointestinal, bem como disbiose da microbiota intestinal e inflamação.

  • Vias Potenciais de Exposição: Embora as pesquisas sobre os impactos diretos dos microplásticos na saúde humana ainda estejam em andamento, existem preocupações crescentes sobre as vias potenciais de exposição, incluindo ingestão (através de frutos do mar, sal de cozinha e outros alimentos contaminados), inalação (de fibras transportadas pelo ar) e contato dérmico (através de produtos de cuidados pessoais).

  • Efeitos Potenciais à Saúde: Os estudos que utilizam modelos de mamíferos e culturas de células humanas indicam que a exposição a microplásticos pode causar:

    • Estresse oxidativo: Os microplásticos podem induzir estresse oxidativo nas células, levando a danos celulares e aumentando o risco de doenças crônicas.

    • Resposta Inflamatória: A presença de microplásticos no corpo pode desencadear respostas inflamatórias, levando à inflamação crônica e a potenciais problemas de saúde.

    • Disbiose da Microbiota Intestinal: Os microplásticos podem interromper o equilíbrio da microbiota intestinal, impactando a digestão, a imunidade e a saúde geral.

    • Efeitos Potenciais em Órgãos: Estudos em animais mostraram que os microplásticos podem se acumular em vários órgãos, incluindo rins, intestinos e fígado, o que causa preocupação sobre potenciais efeitos de longo prazo à saúde.

Preocupações com a Saúde Humana:

Considerações Adicionais:

  • Limitações da Pesquisa: É importante notar que a pesquisa sobre os impactos dos microplásticos na nossa saúde ainda está em seus estágios iniciais e mais estudos são necessários para determinar completamente os riscos potenciais à saúde.

  • Necessidade de Mitigação: A importância da gestão de resíduos plásticos, incluindo a redução do uso de plástico, reciclagem e desenvolvimento de materiais biodegradáveis, para mitigar a poluição por microplásticos e seus potenciais impactos nos ecossistemas e na saúde nossa saúde.

Embora os diversos trabalhos ofereçam uma análise abrangente dos impactos dos microplásticos no meio ambiente, é essencial reconhecer que essa é uma área de pesquisa em andamento. Novos estudos então devem ser realizados, fornecendo uma compreensão mais profunda do destino, transporte, efeitos tóxicos e potenciais riscos à saúde dos microplásticos. É crucial permanecer informado sobre as últimas descobertas científicas principalmente para nós que temos quase 8700km de costa e apoiar iniciativas que visem reduzir a poluição por plástico e promover a sustentabilidade ambiental.

A tabela abaixo lista onde foram encontrados os MPs (como em açúcares e em mel, em água tratada ou em comida dos nossos bichos de estimação) qual a técnica utilizada na identificação dos MPS (como por exemplo microscopia óptica ou eletrônica de varredura ou de transmissão) e claro, qual a referência, ou seja, o de onde foi retirada essa informação.


Retirada de International Journal of Environmental Science and Technology (2023) 20:4673–4694 https://doi.org/10.1007/s13762-022-04261-1 pp 4678 Microplastics in environment: global concern, challenges, and controlling measures


Em resumo, o ciclo de vida dos microplásticos destaca sua persistência no meio ambiente, sua propensão a se fragmentar em pedaços menores e sua capacidade de serem ingeridos por organismos vivos, levando a potenciais efeitos tóxicos em ecossistemas aquáticos e potenciais riscos à saúde humana.

Medidas de Controle estabelecidas nos artigos da literatura apresentados mais abaixo:

  • Controle da Fonte:

Limitação de Plásticos de Uso Único: A redução do consumo de plásticos de uso único, como garrafas de água, sacolas plásticas, canudos e utensílios, é crucial para minimizar a entrada de microplásticos no meio ambiente. Os governos devem implementar políticas que incentivem alternativas reutilizáveis e desencorajem o uso desnecessário de plástico.

Gerenciamento Adequado de Resíduos: Sistemas eficientes de coleta e reciclagem de lixo são essenciais para evitar que os plásticos cheguem aos aterros sanitários e, eventualmente, aos ecossistemas. A implementação de infraestruturas de reciclagem adequadas, juntamente com programas de educação pública para promover a separação de resíduos, é crucial.

Avanços Tecnológicos:

Desenvolvimento de Plásticos Biodegradáveis: A promoção e utilização de plásticos biodegradáveis, como os à base de celulose e poliolefinas, podem ajudar a mitigar os impactos de longa duração dos plásticos tradicionais. Esses plásticos se decompõem mais rapidamente no meio ambiente, reduzindo o acúmulo de microplásticos.

Inovações em Biopolímeros: O investimento em pesquisa e desenvolvimento de biopolímeros derivados de fontes renováveis, como plantas, animais ou micróbios, oferece uma alternativa promissora aos plásticos sintéticos. Os biopolímeros são naturalmente biodegradáveis, reduzindo a poluição por plástico e seus efeitos nocivos.

Técnicas de Degradação Aprimoradas: Explorar e desenvolver métodos inovadores para degradar plásticos de forma mais eficiente, como o uso de enzimas microbianas, é crucial para lidar com os resíduos plásticos existentes e prevenir mais poluição por microplásticos.

Mudanças Comportamentais e Conscientização Pública:

Educação e Conscientização: Campanhas educacionais e iniciativas de conscientização pública são essenciais para informar as pessoas sobre os impactos prejudiciais da poluição por microplásticos e promover escolhas de estilo de vida sustentáveis.

Mudanças de Comportamento do Consumidor: Encorajar os consumidores a rejeitar, reduzir, reutilizar e reciclar (os 4Rs) produtos plásticos podem reduzir significativamente a quantidade de resíduos plásticos gerados.

Envolvimento da Comunidade: Envolver as comunidades locais, organizações não governamentais (ONGs) e outras partes interessadas em esforços de limpeza e iniciativas de redução de plástico é vital para enfrentar a poluição por microplásticos em nível comunitário.

Abordagens Regulatórias e Políticas:

Proibições e Restrições: Os governos devem implementar políticas para proibir ou restringir a produção, venda e uso de produtos que contenham microplásticos, como microesferas em cosméticos e produtos de cuidados pessoais.

Legislação e Fiscalização: A promulgação de leis e regulamentações abrangentes relacionadas à gestão de resíduos plásticos, juntamente com mecanismos eficazes de fiscalização, é crucial para minimizar o descarte inadequado de plástico e incentivar práticas sustentáveis.

Acordos Internacionais: A colaboração e os acordos internacionais são essenciais para abordar a natureza transfronteiriça da poluição por microplásticos. Os países devem trabalhar juntos para compartilhar dados de pesquisa, melhores práticas e desenvolver estratégias conjuntas para reduzir e gerenciar a poluição por microplásticos.

Pesquisa Contínua e Monitoramento:

Métodos Padronizados de Análise: O desenvolvimento e a implementação de métodos padronizados para amostragem, identificação e quantificação de microplásticos em diferentes matrizes ambientais são essenciais para uma avaliação precisa da poluição por microplásticos e desenvolvimento de estratégias eficazes de mitigação.

Comentários finais:

A fotografia que abre esse texto mostra pescadores alagoanos chegando no final do dia se mostrando como exemplo do trabalho diário. Mesmo numa cidade pequena pode ter microplástico naquele saboroso polvo. assim, abordar a poluição por microplásticos exige uma mudança transformadora em como produzimos, consumimos e descartamos plástico. No caso do Brasil a situação é ainda mais complicada pois apenas ~60% do nosso lixo urbano é encaminhado para aterros sanitários.  As medidas sugeridas nos papers é uma abordagem abrangente que englobe o controle da fonte, os avanços tecnológicos, e a educação pública e estruturas regulatórias robustas, podemos mitigar os impactos dos microplásticos no meio ambiente e na saúde humana mas, não levam em conta nosso problema que é a falta de sistema para quase 40 dos nossos resíduos. A colaboração entre governos, indústria e indivíduos é essencial para enfrentar este desafio global e trabalhar para um futuro mais sustentável.

A persistência dos microplásticos no meio ambiente, juntamente com sua natureza ubíqua, representa uma séria ameaça aos ecossistemas e à saúde humana. Sua capacidade de absorver poluentes orgânicos persistentes e metais pesados aumenta sua toxicidade potencial e, como escrevi, embora as pesquisas sobre os impactos na saúde humana ainda estejam em andamento, estudos preliminares usando modelos em animais e em culturas de células já indicam efeitos preocupantes, de modo que é importante que não apenas a literatura científica se ocupe dos MPs mas a mídia publique para que o público em geral se atente para a questão dos microplásticos.

Para aprender mais

International Journal of Environmental Science and Technology (2023) 20:4673–4694 https://doi.org/10.1007/s13762-022-04261-1 Microplastics in environment: global concern, challenges, and controlling measures

SCIENCE 19 Sep 2024 Vol 386, Issue 6720 DOI: 10.1126/science.adl2746, Twenty years of microplastic pollution research—what have we learned?

 

Environmental Nanotechnology, Monitoring & Management 16 (2021) 100530, Microplastics pollution: A comprehensive review on the sources, fates, effects, and potential remediation

 

Nat Med 30, 913 (2024). https://doi.org/10.1038/s41591-024-02968-x Microplastics are everywhere — we need to understand how they affect human health.

 

 

 
 
 

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